“O homem não tem individualidade. Não tem um grande “Eu” único. O homem está fragmentado numa multidão de pequenos “eus”.
“Cada um deles, porém, é capaz de chamar-se a si mesmo de Todo, de agir em nome do Todo, de fazer promessas, tomar decisões, estar de acordo ou não estar de acordo com o que outro “eu” ou o Todo teria que fazer. Isso explica por que as pessoas tão freqüentemente tomam decisões e tão raramente as mantêm. Um homem decide levantar cedo a partir do dia seguinte. Um “eu” ou grupo de “eus” toma essa decisão. Mas levantar já é assunto de outro “eu”, que não está absolutamente de acordo e pode até nem ter sido posto a par. Naturalmente o homem não dormirá menos na manhã seguinte e, à noite, tornará a decidir a acordar cedo. Isso pode acarretar conseqüências muito desagradáveis. Um pequeno “eu” acidental pode fazer uma promessa, não a si mesmo, mas a outra pessoa, em determinado momento, simplesmente por vaidade ou para divertir-se. Depois desaparece. Mas o homem, isto é, o conjunto dos outros “eus” , que estão completamente inocentes, terá talvez que pagar toda a vida por essa brincadeira. A tragédia do ser humano é que qualquer pequeno “eu” tem o poder de assinar promissórias e que o homem, ou seja, o Todo, é que deva fazer face a elas. Vidas inteiras passam-se assim a saldar dividas contraídas por pequenos “eus” acidentais."
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"Man has no individuality. He has no single, big ‘I’. Man is divided into a multiplicity of small ‘I’s.
"And each separate small ‘I’ is able to call itself by the name of the Whole, to act in the name of the Whole, to agree or disagree, to give promises, to make decisions, with which another ‘I’ or the Whole will have to deal. This explains why people so often make decisions and so seldom carry them out. A man decides to get up early beginning from the following day. One ‘I’, or a group of ‘I’s, decide this. But getting up is the business of another ‘I’ who entirely disagrees with the decision and may even know absolutely nothing about it. Of course the man will again go on sleeping in the morning and in the evening he will again decide to get up early. In some cases this may assume very unpleasant consequences for a man. A small accidental ‘I’ may promise something, not to itself, but to someone else at a certain moment simply out of vanity or for amusement. Then it disappears, but the man, that is, the whole combination of other I's who are quite innocent of this, may have to pay for it all his life. It is the tragedy of the human being that any small ‘I’ has the right to sign checks and promissory notes and the man, that is, the Whole, has to meet them. People's whole lives often consist in paying off the promissory notes of small accidental ‘I’s."
~ George Gurdjieff