Esse caminho tem um coração? Se tiver, o caminho é bom; se não tiver, não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não. Um torna a viagem alegre; enquanto você o seguir, será um com ele. O outro o fará maldizer sua vida. Um o torna forte;
o outro o enfraquece.
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A erva-do-diabo é como uma mulher, e como mulher, lisonjeia os homens. Prepara armadilhas para eles a cada passo. Fez isso com você, quando o forçou a passar a pasta na testa. Há de tentar de novo, e você provavelmente cairá. Estou-lhe advertindo. Não a tome com paixão, a erva-do-diabo é apenas um dos caminhos para os segredos de um homem de conhecimento. Há outros caminhos. Mas a armadilha dela é fazê-lo crer que o caminho dela é o único. Digo que é inútil desperdiçar a vida num caminho, especialmente se esse caminho não tiver coração.
- Mas como é que sabe quando o caminho não tem coração, Dom Juan?
- Antes de segui-lo, você faz a pergunta: esse caminho tem coração? Se a resposta for não, você o saberá, e então deve escolher outro caminho.
- Mas como saberei ao certo se um caminho tem ou não coração?
- Qualquer pessoa sabe isso. O problema é que ninguém faz a pergunta; e quando o homem afinal descobre que tomou um caminho sem coração, o caminho está pronto para matá-lo. Nesse ponto muito poucos homens conseguem parar para pensar e deixar o caminho.
- Como devo fazer para perguntar direito, Dom Juan?
- Pergunte, apenas.
- Quero dizer, existe um método apropriado, para não mentir a mim mesmo, acreditando que a resposta é sim quando na verdade é não?
- Por que havia de mentir?
- Talvez porque no momento o caminho seja agradável.
- Isso é tolice. Um caminho sem coração nunca é agradável. Tem de trabalhar muito até para segui-lo. Por outro lado, um caminho com coração é fácil; não o faz trabalhar para gostar dele.