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GOSTOS - Neil Gaiman

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Ele tinha uma tatuagem no braço, um pequeno coração, feito em azul e vermelho.
Abaixo, havia um retalho de pele rosada, de onde um nome havia sido apagado.
Ele lambia o bico do seio esquerdo dela, lentamente. Sua mão direita a afagava na
nuca.
— O que há de errado? — perguntou ela. Ele olhou para cima.
— Como assim?
— Parece que você está... sei lá, em algum outro lugar — disse ela. — Ah... isso
é bom. Isso é mesmo bom.
Estavam  num  quarto  de  hotel.  Era  o  quarto  da  moça.  Ele  sabia  quem  ela  era,
reconhecera-a, mas tinha sido avisado para não usar o nome dela.
Moveu  a  cabeça  para  cima,  fitou-a  nos  olhos  e  baixou  a  mão  até  seus  seios.
Estavam ambos nus da cintura para cima. Ela usava uma saia de seda, ele vestia jeans.
— Bem? — disse ela.
Ele pôs sua boca contra a dela. Seus lábios se tocaram. A língua dela serpenteava
na dele. Ela suspirou, e se afastou.
— O que foi? Você não gosta de mim?
Ele deu um largo sorriso tranqüilizador.
— Se gosto de você? Eu acho você maravilhosa — disse. Abraçou-a apertado.
Então sua mão cobriu o seio como um cálice e vagarosamente apertou-o. Ela fechou os
olhos.
— Bem, então — ela sussurrou —, o que há de errado?
— Nada de errado — respondeu ele. — É maravilhoso. Você é muito bonita.
— Meu ex-marido vivia dizendo que eu era bonita. — Ela correu as costas da
mão pela frente do jeans, para cima e para baixo. Ele se colocou contra ela, arqueando as
costas.
— Acho que ele tinha razão.
Ela sabia o nome que ele havia lhe dado, mas certamente era falso, um nome de
conveniência. Não pretendia usá-lo.
Ele tocou as faces dela. Então, pôs a boca no bico do seio. Dessa vez, enquanto
lambia, levou a mão entre as pernas da mulher. A seda do vestido era suave ao toque, e
pousou os dedos como uma taça sobre o púbis, aumentando a pressão lentamente.
— Seja como for, alguma coisa está errada — disse ela. — Tem alguma coisa
acontecendo nessa sua linda cabeça. Tem certeza de que não quer falar sobre isso?
— É besteira — disse ele. — E eu não estou aqui por mim. Estou aqui por você.
Ela desabotoou o jeans do parceiro. Ele o empurrou para baixo e o fez escorregar
até sair por completo, deixando-o cair sobre o chão, ao lado da cama. Usava uma cueca
fina escarlate, e seu pênis ereto pressionava o material.
Enquanto ele tirava o jeans, a mulher removeu os brincos, feitos de fios de prata
primorosamente trançados. Ela os colocou cuidadosamente ao lado da cama.
Ele riu de repente.
— O que foi? — quis saber ela.
— Apenas uma lembrança. Strip poker — disse ele. — Quando eu era garoto,
não sei, treze ou quatorze anos, a gente costumava jogar com as meninas que moravamao  lado.  Estavam  sempre  carregadas  com  penduricalhos...  colares,  brincos,  lenços  de
pescoço, coisa do tipo. Então, quando perdiam, tiravam um brinco ou qualquer outra
coisa. Dez minutos depois, a gente estava nu e constrangido, e elas ainda completamente
vestidas.
— Então, por que jogava com elas?
— Esperança — disse ele, com a mão já por baixo do vestido dela, começando a
massagear seus grandes lábios na calcinha de algodão.
— Esperança de que talvez a gente pudesse dar uma olhadela em alguma coisa.
Qualquer coisa.
— E alguma vez conseguiu?
Ele  tirou  sua  mão  e  rolou  por  cima  dela.  Ambos  se  beijaram.  Apertaram-se
enquanto se beijavam, gentilmente, virilha contra virilha. As mãos dela apertando suas
nádegas.
— Não. Mas sempre se pode sonhar.
— E daí? Qual é a bobagem? E por que eu não entenderia?
—  Porque  isso  é  bobo.  Porque...  eu  sei  lá  em  que  você  está  pensando.  Ela
abaixou a cueca dele. Correu seu dedo indicador pela lateral do pênis.
— É realmente grande. Natalie disse que seria.
— Ah é?
— Eu não sou a primeira pessoa a dizer isso a você, que ele é grande.
— Não.
Ela abaixou a cabeça e beijou seu pênis na base, onde a fonte de pêlos dourados
roçavam-na. Então, gotejou um pouco de saliva sobre ele e correu a língua lentamente
por todo o seu comprimento. Depois disso, virou-se, olhou fixamente com seus olhos
castanhos dentro dos azuis dele.
—  Você  não  sabe  em  que  eu  estou  pensando?  O  que  isso  quer  dizer?  Você
normalmente sabe em que as outras pessoas pensam?
Ele meneou a cabeça.
— Bem — disse ele. — Não exatamente.
— Aguarde só um momento — disse ela. — Eu já volto.
Ela  se  levantou,  caminhou  até  o  banheiro,  fechou  a  porta,  mas  não  trancou.
Ouviu-se um barulho de urina caindo no vaso sanitário. Pareceu se estender por um
longo  tempo.  A  descarga  foi  dada,  o  som  de  movimento  no  banheiro,  o  armário
abrindo, fechando, mais movimentos.
Ela abriu a porta e saiu. Estava completamente nua agora. Parecia, pela primeira
vez, suavemente constrangida. Ele estava sentado sobre a cama, nu também. Seus cabelos
eram  loiros  e  cortados  bem  rente.  Conforme  ela  se  aproximou,  ele  a  buscou  com  as
mãos, segurou-a pela cintura e a puxou para perto de si. Seu rosto estava na altura do
umbigo. Ele o lambeu e, então, abaixou a cabeça até a sua virilha, pressionou sua língua
contra os grandes lábios, lambeu e chupou.
Ela começou a respirar mais rapidamente.
Enquanto lambia seu clitóris, enfiou um dedo na vagina. Já estava molhada e o
dedo escorregou facilmente.
Ele passou a outra mão pelas costas dela, de cima para baixo, até a curva de sua
bunda e a deixou ali.
— E aí? Você sempre sabe em que as pessoas estão pensando?Ele colocou a cabeça para trás, os fluidos dela ainda em sua boca.
— É meio idiota. Quero dizer, eu realmente não quero falar sobre isso. Você vai
pensar que sou esquisito,
Ela se curvou, tocou-o com a ponta dos dedos no queixo, beijou-o. Mordeu seu
lábio, não muito forte, e puxou com os dentes.
— Você é esquisito, mas eu gosto quando fala. E quero saber o que há de errado,
Senhor Leitor-de-Mente.
Ele sentou na cama próximo dela.
— Você tem seios lindos — disse-lhe, — Realmente adoráveis.
Ela fez um biquinho.
— Eles não são tão bons quanto antes. E não mude de assunto.
— Não estou mudando de assunto. — Deitou-se na cama.
—  Não  posso  ler  mentes  na  verdade.  Mas  meio  que  posso.  Quando  estou  na
cama com alguém... sei o que faz a pessoa pegar fogo.
Ela subiu por cima dele, sentou no seu estômago.
— Você está brincando.
— Não.
Ele a tocou gentilmente com os dedos no clitóris. Ela se contorceu.
— Gostoso.
Ela se moveu para baixo alguns centímetros. Agora, estava sentada sobre o pênis,
pressionou-o horizontalmente. Moveu-se sobre ele.
— Eu sei... em geral, eu... você sabe como é difícil se concentrar quando se faz
isso?
— Fale — disse ela. — Fale comigo.
— Enfia dentro de você.
Ela  levou  a  mão  para  baixo,  segurou  seu  pênis.  Levantou-se  suavemente,
agachou-se sobre o membro, abocanhando a cabeça para dentro de si. Ele arqueou as
costas,  e  penetrou  na  mulher.  Ela  fechou  os  olhos  e,  então,  os  abriu  fitando-o
intensamente.
— E aí?
— É só que, quando estou fodendo, ou mesmo na hora de foder, bem... eu sei
coisas. Coisas que honestamente não saberia - ou não poderia saber. Coisas que nem
mesmo  quero  saber.  Abuso  sexual.  Abortos.  Demência.  Incesto.  Se  são  sádicas
enrustidas ou se estão roubando seus patrões.
— Por exemplo.
Estava vindo com tudo agora, estocando pausadamente para dentro e para fora.
As mãos dela repousavam em seus ombros. Encostou-se, beijou-o nos lábios.
— Bem, também funciona com sexo. Normalmente, eu sei como estou indo. Na
cama. Com mulheres. Sei o que fazer. Não tenho que perguntar. Eu sei. Se ela quer
fazer por cima ou por baixo, se precisa de um mestre ou de um escravo. Se quer que eu
sussurre  "eu  te  amo"  várias  vezes  enquanto  fodo  e  nos  estendemos  lado  a  lado,  ou
apenas quer que eu mije dentro da sua boca. Viro o que ela quiser. Por isso que... meu
Deus. Eu não posso acreditar que estou contando isso pra você. Quer dizer, foi assim
que comecei a fazer isso pra viver.
— É, A Natalie confia muito em você. Ela me deu o seu número.
— Ela é muito legal. Natalie. E em boa forma pra idade.— E o que a Natalie gosta de fazer, então?
Ele sorriu para ela.
— Segredos do ofício — disse ele. — Jurei manter sigilo. Palavra de Escoteiro.
— Espere — disse ela. Saiu de cima dele, virou-se de lado. — Por trás. Eu gosto
que foda por irás.
— Eu deveria saber — disse ele, soando quase irritado. Levantou, posicionou-se
atrás  dela,  correu  um  dedo  de  cima  a  baixo  na  pele  macia  que  cobria  sua  espinha.
Colocou sua mão entre suas pernas, então agarrou o pênis e o enfiou na vagina.
— Bem devagar — disse ela.
Ele empurrou o quadril, deslizando seu pênis para dentro dela. Ela ofegou.
— Está bom assim? — perguntou ele.
— Não — disse ela. — Dói um pouquinho quando entra inteiro. Não tão fundo
da próxima vez. Então, você sabe coisas sobre as mulheres quando transa com elas. O
que sabe sobre mim?
— Nada de especial. Sou um grande fã seu.
— Me poupe.
Um de seus braços cruzava sobre os seios dela. Sua outra mão tocava seus lábios.
Ela chupou seu dedo indicador, lambendo-o.
— Bem, não um grande fã. Mas eu vi sua entrevista no Letterman, e achei você
maravilhosa. Bem divertida.
— Obrigada.
— Eu não posso acreditar que a gente está fazendo isso.
— Fodendo?
— Não. Falando enquanto fademos.
—  Eu  gosto  de  falar  enquanto  fodo.  Basta  desse  jeito.  Meus  joelhos  estão
cansados.
Ele tirou e se sentou na cama.
— Então, você sabe o que as mulheres pensam, e o que elas querem? Hmm. Isso
funciona com homens?
— Não sei. Nunca fiz amor com um homem.
Ela o olhou fixamente Colocou seu dedo na testa dele, e o correu lentamente até o
queixo, traçando a linha dos ossos da sua face.
— Mas você e tão bonito.
— Obrigado.
— E você é um michê.
— Um acompanhante.
— E vaidoso também,
— Talvez. E você não é?
Ela deu um largo sorriso.
— Touché. Então, você não sabe o que eu quero agora?
— Não.
Ela se deitou de lado.
— Coloque uma camisinha e me foda no cú.
— Você tem lubrificante?
— No criado-mudo.
Ele pegou a camisinha e o gel da gaveta, e desenrolou-a ao redor do pênis.— Odeio camisinha — disse enquanto vestia. Elas me dão coceira. E tenho ficha
de saúde limpa. Mostrei o certificado a você.
— Não me importo.
— Só achei que tinha mencionado isso. É só.
Ele  espalhou  lubrificante  dentro  e  em  volta  do  seu  ânus,  e  então  escorregou  a
cabeça do pênis para dentro. Ela gemeu. Ele fez uma pausa.
— Está... Tá tudo bem?
— Sim.
Ele mexeu para frente e para trás, colocando mais fundo. Ela grunhia de modo
cadenciado a cada movimento. Após alguns minutos, disse:
— Já é o bastante.
Ele tirou. Ela rolou de costa e tirou a camisinha borrada do pênis, deixando-a cair
no carpete.
— Pode gozar agora.
— Eu não estou pronto. E nós ainda podemos transar por horas.
— Não me importo. Goze na minha barriga. — Sorriu para ele. — Masturbe-se
até gozar.
Ele assentiu com a cabeça, mas sua mão já estava segurando desajeitadamente o
pênis, movendo-o para frente e para trás até que esguichou um rastro brilhante por toda
sua barriga e seios.
— Acho que já pode ir embora — disse ela.
— Mas você não gozou ainda. Não quer que eu faça você gozar?
— Já consegui o que queria.
Ele sacudiu a cabeça, confuso. Seu pênis estava flácido e encolhido.
— Eu deveria saber — disse intrigado. — Eu não... Eu não sei. Eu não sei nada.
— Vista-se — disse ela. — Vá embora.
Ele  vestiu  as  roupas  rápido,  começando  pelas  meias.  Então,  inclinou-se  para
beijá-la.
Ela moveu a cabeça evitando seus lábios.
— Não — disse ela.
— Posso ver você novamente?
Ela sacudiu a cabeça.
— Acho que não.
Ele estava tremendo.
— E o dinheiro? — perguntou.
— Já paguei — disse ela. — Paguei quando você entrou. Não se lembra?
Ele fez que sim com a cabeça, nervoso, como se não pudesse lembrar, mas não
ousasse  admitir.  Então,  apalpou  seus  bolsos  até  que  encontrou  um  envelope  com
dinheiro dentro, e mais uma vez, fez sinal com a cabeça.
— Sinto-me vazio — disse melancólico. Ela mal notou quando ele saiu.
Permaneceu na cama com a mão sobre a barriga, o fluido do esperma secando e
esfriando em sua pele, e experimentou o rapaz em sua mente.
Degustou cada mulher com quem ele dormira. Experimentou o que fez com sua
amiga, rindo das pequenas perversões de Natalie. Saboreou o dia em que perdeu seu
último trabalho. Provou a manhã em que acordara, ainda bêbado, no carro, no meio de
um milharal, quando, aterrorizado, renunciou solenemente à bebida para sempre. Ela soube seu verdadeiro nome. Lembrou-se do nome que havia, uma vez, sido tatuado no
seu braço e sabia o porquê de não poder mais continuar lá. Provou a cor de seus olhos
por dentro, e teve calafrios com o pesadelo que o atormentava, no qual era forçado a
carregar peixes espinhosos com a boca, o que o fazia acordar engasgando, noite após
noite. Saboreou seu apetite por comida e ficção, e descobriu um céu escuro quando, ele
ainda garotinho, olhava fixamente para estrelas, admirado por sua vastidão e imensidão;
algo que até o rapaz já esquecera.
Mesmo no material mais insignificante, menos promissor, ela havia descoberto
que se encontravam verdadeiros tesouros, E ele tinha um pouco desse talento, embora
nunca  tivesse  entendido,  ou  usado  para  outro  propósito  a  não  ser  sexo.  Ela  se
perguntava,  enquanto  nadava  em  suas  memórias  e  sonhos,  se  o  coitado  sentiria  falta
deles,  se  algum  dia  notaria  que  haviam  desaparecido.  E  então,  estremeceu,  estática,
gozou, em lampejos luminosos, que a aqueceram e a tiraram de si, levando-a à perfeição
extrema da pequena morte.
Houve um estrondo no beco, lá embaixo. Alguém havia tropeçado numa lata de
lixo.
Sentou-se e esfregou o melado da pele. Então, sem se lavar, começou a se vestir
mais  uma  vez,  começando  pela  calcinha  branca  de  algodão  e  terminando  com  seus
brincos elaborados de prata.

Neil Gaiman - Fumaças e espelhos